sábado, junho 18, 2005

Le Tourbillon de la Vie

Resumir Jules et Jim a um conjunto de características não é das tarefas mais fáceis. Apenas direi que se trata de um dos filmes mais misteriosos e ricos do génio de François Truffaut.
Do que acabou por se tornar numa obra cinematográfica de uma geração e foco de uma paixão cinéfila intensa, parece perdurar no tempo, e até hoje, como algo de extremamente desconcertante, tanto pela sua sinceridade, como pela sua fatalidade. Por um conjunto de características e circunstâncias aparentemente joviais, Jules et Jim impõe-se como dos filmes que mais marcas deixam no cinema e no espectador, este recolocado tanto fora como dentro do trio de personagens, numa experência intensa e marcante de identidade.
Toca-nos, por ela, a busca pela eternidade - a estátua do Adriático, personagens que não envelhecem, Catherine como mulher de todos os homens, Paris e a sua Belle Époque, o tempo que passa apenas como graus de areia numa ampulheta. Como uma música que se toca, mas que ainda não está pronta.
Alors tous deux on est repartis,
Dans le tourbillon de la vie,
On a continué à tourner,
Tous les deux enlacés, tous les deux enlacés.
Giramos, giramos, de amor para amor, de um lugar para outro, de uns braços para outros. Tudo intenso, tudo misterioso, tudo simples, tudo em vida.
E o choque previsível é o da morte - é aqui que a música acaba. Tous les deux enlacés, tous les deux enlacés. Até lá, pela vida, jogamos com ela (esta e a outra), por máscaras ou corridas, a brincar com os seus vestígios.
E como fazê-lo? Dans le tourbillon de la vie. Com um bocadinho de batota - Catherine e a corrida, soberbamente filmada ("Vous avez triché! Oui, mais j'ai gagné"), desencontros (im)previstos, mergulhos ensaiados.
E toda a destruição está presente na câmara de Truffaut, que gira e corre, para além de toda a memória, seguindo o momento. Pelas corridas e passeios, por cada cara de Catherine (sequência fabulosa), até ao soulagement da última cena, no testemunhar do que sobrevive.
Jules et Jim marca-nos pelo que é - a união perfeita de lirismo e movimento, de imagem e de ausência, de memória e reconhecimento, de paixão e morte, e de todos os seus tempos. Uma beleza libertina, clássica e fatal.

1 comentário:

Anónimo disse...

passados estes anos todos, jules et jim continua a ser uma das obras mais enigmáticas de truffaut.na época em que apareceu, sobretudo em portugal foi uma pedrada no charco. pela sua mensagem de "libertinagem" por tão poucos bem entendida. estmos longe de antoine doinel e do seu percurso doméstico e deslumba-os a descoberta da sensualidade doce de jeanne moreau. é a todos o s ttulos um filme de alguem que atigira a sua idade madura.
o turbilhão da vida, quem se salva nele?