quinta-feira, fevereiro 02, 2006

L'Imagination au pouvoir



Paris é cinema.

São planos infinitos que se vêem pela cidade fora, em cada recanto, em cada promenor, ou em cada panorâmica. Portas, prédios, lojas, ruas, árvores, boulevards, jardins, tudo o que é paisagem, todos os bairros, o rio, as roupas e os casacos, o amor, os bonjours e bonne soirées.
Naturalmente, um artista como Truffaut, cineasta da vida, apenas poderia ter crescido nesta cidade – dias inteiros passados em cineclubes e salas de cinema, cafés recheados de posters de filmes e de estrelas míticas (que nunca morrem), entradas ainda com as fotografias velhinhas de exibição, fichas e pequenos textos com as informações básicas para qualquer cinéfilo, e tudo o que de resto se pode imaginar.
E aí entramos nos filmes. Em Paris, cada bairro tem as suas autênticas cinematecas, salas exclusivamente dedicadas a reposições de filmes de outros tempos, de outros mundos, para onde nos podemos transportar e esconder. Não admira que Truffaut tomasse esse rumo. São homenagens constantes, ciclos eternos dedicados ao que se pensava que já não se poderia ver, tanto em horários para quem vive de dia, como para quem vive de noite. Tudo isto para se viver no cinema.
O cinema aqui não se esquece. Vive, e vive-se, com antecipação, a expectativa cinéfila, a discussão antes e depois do filme, também encaminhada para cafés, esses outros cenários, dans les rues de Paris. Naturalmente, daqui teria que germinar qualquer coisa, explosões de imaginação para agitar a vida previsível, noutros anos, noutro mês de Maio.
E ao sair das salas, temos a névoa de Inverno, que nos mostra que o sonho, nesta cidade, vive também cá fora. Ainda podemos caminhar até casa imersos no nosso novo cinema, que se torna tão ligado ao de Paris. E nunca esquecer...
Que je dégradasse les murs de la classe...

2 comentários:

Mafalda Azevedo disse...

... E ao sair das salas, temos a névoa de Inverno, que nos mostra que o sonho, nesta cidade, vive também cá fora. Ainda podemos caminhar até casa imersos no nosso novo cinema, que se torna tão ligado ao de Paris. E nunca esquecer...

- Descer a Avenida da Liberdade depois de sair da Cinemateca... -

Anónimo disse...

“Paris é cinema” : absolutamente ; assim como Lisboa poesia e metafísica. Não há cinematecas em todos os bairros em Paris caro doutor. Há nomeadamente um que não tem NENHUM cinema mas … mesmo esse se torna cinema quando para ele olhamos filtrados pelo olhar do cinéfilo cuja solidão procura borboletas para lá do ecran, querendo entrar nele como a Mia Farrow ou sonhando (em vão?) que o ecran invada a nossa vida. Deixar uma sala e continuar a ver cinema. Por quanto tempo? Até que momento ? Como não temer o instante onde tudo muda, onde tudo se esvai, onde voltamos à realidade ou melhor, onde a realidade volta a nós? Permanecendo numa concepção da vida como imitação da arte, à Oscar Wilde.