
Antes do Amanhecer, ou do Anoitecer, não somos nada sem o nosso cinema. Cinema que criamos, que nos angustia, que nos faz também viver, e sonhar por mais, em qualquer lugar, aqueles por onde passamos, aqueles que deixamos, e que continuam a existir pela eternidade do tempo (aquela que ambicionamos). No cinema há espaço para o receio, para o cepticismo, mas sem dúvida muito mais para o idealismo, para o romantismo, o que toca cada plano, cada promenor, cada sombra ou cada raio de luz, a que nos projecta e que é projectada. Apenas desejamos ser levados por ela, que nos acorde, que nos ilumine, que traga encanto, magia (projecção), que nos faça ver o que não acreditavamos que alguma vez poderiamos ver. Por essa concretização, por cada detalhe que se junta no filme, enriquecemo-nos humanamente, e dificilmente alguma vez o deixaremos. Porque é por ele que sonhamos, que nos agarra ao que verdadeiramente amamos, que nos transtorna na sua (quase) fatalidade, que modifica e joga com as nossas "moléculas", das quais somos compostos - os sentimentos.
Antes ou depois dele(s), seremos sempre a mesma pessoa, nunca mudaremos, e damo-nos conta da mera passagem que uma vida pode ser. Mas vivemos como que pela necessidade de um preenchimento, de um vazio que somos ou eramos e que queremos deixar de ser. Pelo explosão de romantismo, ou pelo doce transbordar de um desejo inevitável, superior ao destino - o desejo do nosso cinema, para que possa crescer, e que nos mude a nós próprios.
E cada sítio vazio é um local onde nos encontramos, onde nos encontrámos, onde esse desejo nasceu, existiu, e de onde partiu para outros, acompanhando-nos, formando-nos, puxando-nos para voltar, voltar sempre a esse sítio - onde estamos, de onde partimos, onde já ficamos.
O retorno é inevitável, pois o sentimento não morre, muito menos o nosso cinema. É por aí que vivemos, pelo que antes era sonho, mas agora realidade. "Flowing downstream, caught in the current, I'll carry you, you'll carry me, that's how it could be". "Just in time".